pinga-amor
deixa-me ficar, bela
no café do nosso bairro a olhar p´ra ti
com a flor esquecida que ali colhi
hei de esculpir o teu nome num rochedo
galopar, correr atrás do medo
deixa-me ficar, bela
que vi uma estrela na tua janela
apagar-se com o lume da traição
deixa-me ir contigo, joia
correr o mundo, gastar as nossas milhas
ficar contigo no país das maravilhas
hei de curar para sempre as tuas chagas
galopar, correr atrás das vagas
deixa-me ir contigo, joia
que vi de noite o luar da tua tenda
apagar-se com o lume da traição
deixa-me morrer, beibe
neste calvário, nesta bebedeira
tu de branco e de raiz de laranjeira
em cama de ouro onde nos puseram
quando da vida nem ficou o que nos deram
deixa-me morrer, beibe
que vi contigo uma festa de mil cores
apagar-se com o lume da traição
deixa-me nascer, flor
gerar um filho, depois casar contigo
viver contigo o deleite e o castigo
que ter-me erguido, frágil, no arame
não me deixou preparado para o exame
deixa-me nascer, flor
que vi cair o fulgor do teu olhar
e apagar-se com o lume da traição
deixa-me assentar, deusa
dá-me alento com o brilho do teu ser
cruza comigo o deserto ao entardecer
que eu sou um homem pronto para o salto
no banco do teu carro azul-cobalto
deixa-me assentar, deusa
que vi morrer a paz do por-do-sol
e apagar-se com o lume da traição
minha doçura, meu enleio e meu tormento
deixa-me entrar no teu apartamento
ficar deitado até ao fim dos dias
no teu colchão, nas tuas almofadas
sentir, p’lo S. João, as orvalhadas
deixa-me aqui entrar sem nada
sentar-me na tua varanda a ver
os foguetes do S. Pedro da Afurada
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