os encontros

 Há muitas maneiras de um homem e uma mulher se encontrarem quando adultos. Muitas vezes é entre as luzes e o verniz, onde os sorrisos estalam a capa do batom e os nós das gravatas apertam. Por causa dos sons das vozes, dos altifalantes e do choque dos pratos, os olhos ficam presos e hipnotizados e isso é tomado como encontro. Neste caso, os dias seguintes tendem a prolongar o hipnotismo, em tempos frenéticos de jantares temáticos e hotéis com sauna que culminam em programas longos de luas de mel e destinos exóticos. Normalmente são as sombras do fim do dia, ainda que em pores do sol com palmeiras, e o próprio arrastar dos dias, que obrigam à viagem de regresso em voos separados. Mas o encontro pode ser também na fila do supermercado, no consultório do dentista, na viagem de comboio, esses pontos triviais onde o roçar acidental do casaco, o aroma do perfume, a curva do lábio ou o recorte da mão, fazem desviar o olhar, que pode encontrar o riso. Normalmente não chega a haver dias seguintes o que não põe em causa o encontro, mas cria o desalento próprio das coisas que escapam por entre os dedos e aonde inevitavelmente se regressa. Há também os das ruas desertas, das praças sombrias, das vielas escuras, e aí basta que se reconheçam os passos perdidos como sendo os próprios passos para que se prossiga de braço dado. O dia depois da noite poderá trazer tudo ou ser tão vazio como dantes, sempre mais pesado do temor de regressar. E muitos mais.

E há ainda os encontros sem rosto e sem corpo, que parecem fazer-se pela alma, e ainda assim trazerem aromas de frutos serranos. Para os que se aventuram no bosque pode não haver regresso.

(Para C, com Local de Desencontro, de Cruzeiro Seixas)


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